Por Que Releio A Arte de Pensar Claramente Antes de Iniciar um Novo Negócio
Percebi que os elogios que eu recebia entravam em conflito com meu objetivo de vida. Uma reflexão sobre a importância da clareza para não me desviar da jornada
Decidi começar este Substack para documentar, de forma transparente, o desenvolvimento dos meus projetos de SaaS e micro-SaaS. O objetivo central é desenvolver ferramentas que geram renda passiva, e vou mostrar o processo aqui, focando bastante em soluções LowCode para provar que é um caminho acessível.
Agora, estou no exato ponto de partida de um novo projeto. E, neste exato momento, o maior desafio não é técnico. Não é sobre qual back-end ou front-end usar.
O maior desafio é validar a premissa.
Antes de escrever a primeira linha de código, eu paro tudo e faço uma espécie de ritual: eu releio um livro chamado “A Arte de Pensar Claramente”, de Rolf Dobelli.
Pode parecer um desvio, mas na minha experiência, o erro técnico se conserta. O erro de premissa – construir a coisa errada por motivos errados – é o que quebra um projeto.
Temos muitas ideias no dia a dia. O difícil é filtrar quais delas são genuinamente boas e quais são apenas armadilhas do nosso próprio pensamento, nossos vieses. E eu digo isso porque já cometi esse erro caro.
A Armadilha do “Sucesso” que me Prendeu
Alguns anos atrás, eu tinha uma produtora de vídeos, a Studio Cine. Eu e meu sócio estávamos estabelecidos, o negócio ia bem. Mas havia um problema fundamental: o modelo de negócio nos prendia geograficamente. E isso batia de frente com nosso objetivo principal de ter liberdade, tanto financeira quanto geográfica.
Era óbvio que algo precisava mudar, mas sair da situação era complexo.
O que nos segurava lá não era a falta de oportunidade, eram os vieses cognitivos.
O primeiro era o Viés de Confirmação. Na época, fomos pioneiros no uso de câmeras HDSLR, que davam uma qualidade cinematográfica aos vídeos. Vimos outras empresas copiarem nosso método. Isso nos dava orgulho, “confirmava” que estávamos na tendência certa.
O segundo era o Viés dos Elogios. Recebíamos feedback positivo constante. Cada elogio reforçava a ideia de que estávamos no caminho certo.
O problema? Essa confirmação externa e os elogios mascaravam a realidade: a cada novo projeto “de sucesso”, nossa agenda lotava e o objetivo real (liberdade geográfica) ficava mais distante. Estávamos otimizando a coisa errada.
Foi preciso um esforço consciente de distanciamento para analisar os fatos. Após um ano de planejamento, fechamos a Studio Cine e abrimos a Studio Preview, focada em desenvolvimento de sites para agências. Um modelo 100% remoto.
A lição foi clara: a clareza de pensamento para identificar o objetivo real, acima do ruído dos vieses, foi o que permitiu a transição.
Identificando Vieses nas Decisões do Dia a Dia
Hoje, ao avaliar uma nova ideia de SaaS, eu levo essa lição muito a sério. Vieses são sutis, vêm da nossa cultura, família, do que consumimos.
Por exemplo, no nosso mercado de “indie hackers” e SaaS, é comum ver o “viés de tendência”. Vemos alguém ter sucesso com um “AI Wrapper” e, de repente, todos querem fazer um. Isso é seguir o fluxo, não necessariamente uma decisão clara.
Eu tento manter uma vigilância constante sobre minhas próprias decisões. “Estou realmente resolvendo um problema validado, ou estou apenas animado com uma tecnologia nova?”
Busco ativamente conversar com pessoas de fora da minha bolha. Reviso decisões passadas e seus resultados: foram baseadas em fatos ou em vieses?
Meu “Checklist” Prático para Clareza Mental
Ao longo dos anos, especialmente após a transição da Studio Cine, desenvolvi um processo prático para filtrar ideias e tomar decisões. Não é nada místico, é apenas um checklist lógico.
1. Definir o Objetivo Real: O que eu quero alcançar com este projeto? (Ex: Renda passiva de X, com no máximo Y horas de suporte por semana). Se a ideia ferir o objetivo, é descartada.
2. Avaliar Prós e Contras (Baseado em Fatos): Escrevo uma lista. “Acho que os clientes vão gostar” não é um fato. “Falei com 5 clínicas e 4 disseram que pagariam por isso” é um fato. Foco muito nos contras.
3. Reconhecer o Conhecido e o Desconhecido: O que eu sei sobre esse mercado? E, mais importante, o que eu não sei? Ser honesto sobre a própria ignorância é crucial.
4. Decidir com Base na Realidade Atual: Evito “achismos”. A decisão deve se basear em informações concretas de hoje, não em suposições.
5. Assumir Consequências: Eu aceito a responsabilidade pelo resultado. Se falhar, o erro foi meu. Isso me força a ser mais cuidadoso na análise, em vez de culpar “o mercado” ou “a sorte”.
6. Ser Flexível para Mudanças: A vida é feita de ciclos. Se os fatos mostrarem que a premissa estava errada, eu preciso estar pronto para mudar o curso (pivotar) sem ego.
O Ponto de Partida
Clareza mental não é sobre ser perfeito, é sobre ser intencional. É um trabalho diário de autoconhecimento e disciplina.
Eu sei que essa fase de “escolher a ideia” e validá-la é onde muitos travam. É um ponto cego comum. Se você está preso aí, sem saber se sua ideia de SaaS é viável ou se é só um viés falando mais alto, talvez uma análise externa ajude.
É parte do que eu ofereço como serviço: consultoria para análise de viabilidade e prototipagem. Às vezes, você só precisa de uma visão experiente para validar (ou invalidar) a premissa antes de investir meses em desenvolvimento. Seja o projeto completo, só o front-end ou o back-end. Se fizer sentido, basta entrar em contato.
Este artigo é o meu ponto de partida para essa jornada pública. Antes de mergulhar nas ferramentas LowCode, nos bancos de dados e nas APIs, eu precisava garantir que o motivo pelo qual estou construindo está claro.
Se você também sente que precisa de um “filtro” melhor para suas decisões, recomendo fortemente a leitura de “A Arte de Pensar Claramente” de Rolf Dobelli.
É um livro direto, com 99 capítulos curtos, cada um sobre um erro de lógica que cometemos. É o tipo de livro que mantenho na mesa para consultas rápidas.
(O link para a Amazon é de afiliado. Se você comprar por ele, eu recebo uma pequena comissão, sem custo adicional para você. É uma forma de apoiar este trabalho.)
Nos próximos artigos, vamos começar a detalhar a primeira ideia de micro-SaaS e o processo de validação na prática.
Até lá.




Não conhecia este livro. Apontado como recomendação. Obrigada
Já tentei ler este livro algumas vezes, mas nunca terminei! Preciso de mais foco 🫣